Zygmunt Bauman e a Pós-Modernidade


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Palestrante: Luiz Felipe Ponde (filósofo)
Nossa sociedade paralisada pelo medo.
O despertar do sono da modernidade.
A crença na razão e na vida administrada.
Pensamento do Bauman:
Ser humano: animal que não tem solução.
Está anos-luz da ideia de solução, mas a consciência disso já mostra sua inteligência.

Nós sempre pensamos porque estamos aqui… O que estamos fazendo aqui… Se é acaso… Ou alguém que nos mandou… o fim das coisas…
O ser humano é obcecado por essas questões…

Ser humano: Marcado pela angústia porque parece que tem algo errado com ele.
O nome Pós-Modernidade aparece nos anos 80, com Jean-François Lyotard, que a define como a recusa de narrativas longas sobre as coisas. (Teorias longas, ideias complexas).
Para Bauman, a consciência Pós-Moderna antes de tudo é a consciência do fracasso, do fracasso da modernidade. Fracassou nas utopias que nos prometeu.
Consciência Pós-Moderna:
- Despertar maldito de um sonho colorido (Capacidade de organização, de determinar causa e efeito…) para um pesadelo.
- Momento de esperança

Fenômeno social para descrever o problema da modernidade: Holocausto
Modernidade e Holocausto (livro) – Bauman
No holocausto, no extermínio trabalharam pessoas normais, não monstros sádicos.
A preocupação com a administração da vida parece distanciar o ser humano da reflexão moral. Preocupa-se com a ideia de eficácia, em resolver problemas, não pode colocar no meio uma questão moral, ou a angústia disso não resolver o problema do sistema. O holocausto é o ápice dessa dinâmica.
Holocausto: Dinâmica e violência da racionalidade chegam ao topo.
Bauman começa a se perguntar se não é melhor mesmo a modernidade fracassar.
Estão atravessando um deserto, não uma primavera cheia de flores de plástico, vamos sofre bastante nessa travessia.

Ralph Waldo Emerson (poeta e filósofo do Séc. XIX): Vivemos como se estivéssemos sobre uma fina casca de gelo, se pararmos ela racha.
Bauman parafraseia assim: Atravessamos o inverno e a casca é fina, se andarmos devagar o chão racha.
Característica fundamental do diagnóstico do momento: Você tem que correr muito, a velocidade é cada vez maior, na maioria das vezes você para e pensa pra onde está correndo mesmo, você não ta correndo para lugar nenhum, você só está correndo porque você tem que correr. Porque se você não correr a casca de gelo racha e você se afoga.
Modernidade líquida (livro) – Bauman
Desenvolve aquela metáfora: No capitalismo tudo que é sólido desmancha no ar. E aprofunda isso dizendo que não é ar, é líquido. As coisas não têm formas, elas se espalham. Hoje se você tentar pegar na sua mão o que você entende por sua família, é líquido, porque a sua relação com seus familiares é uma relação líquida, a qualquer momento ela acaba. Não há nenhuma garantia de que a pessoa que está do lado de você permanecerá com você. Inclusive porque ela é alimentada pelo mesmo motor que você é, aquele “eu mereço ser feliz no que eu faço”, quando a pessoa que estiver ao meu lado não preencher os requisitos da felicidade a qual eu tenho direito, eu troco.

A gente deve pensar Pós-modernidade como:
-Uma perspectiva diante da vida (Consciência)
-E no habitat pós-moderno (Ação)

O que é a modernidade? Modernidade sólida?
-“Começou” em 1500
-Crença na transformação do mundo através da ciência, da racionalidade.

Nomes: Copérnico, Galileu, Bacon
Modernidade atinge a sua maturidade no séc. XIX, no XX já começa a viver o seu pesadelo total.
No séc. XIX você encontra intelectuais que acreditam que descobriram a fórmula de como a história anda a partir das relações de troca de mercadoria.
Idéia de movimento: percebemos hoje que estamos no lugar da mercadoria, mas o que falta para nós é a fé, a crença de que a fórmula de transformação, de sair dessa situação, essa fórmula está no corpo.
Freud é outro que ajuda a afundar a modernidade. Que com a terapia você se tornaria um ser consciente robusto.
Temos tantos especialistas, que hoje o nosso problema… a gente precisa de especialistas que nos ajudem a identificar quais são os especialistas que de fato merecem ser especialistas.  Acabamos tendo um mar de especialistas.
O máximo que a gente consegue ter hoje como ideia de identidade é a noção de estilo. Você é o que você veste. Você é o restaurante que você frequenta… o livro que lê… a praia que frequenta e etc…
Essa noção de estilo trabalha uma noção mais profunda, mais pesada, que seria a personalidade. Quem quer ter personalidade? Personalidade é trauma, não preciso disso, preciso ser leve. Memória e isso tudo só criam problemas, memória só as boas, as que me ajude a melhorar minha auto imagem, que me ajude a passar de um dia para o outro.
A modernidade sólida deságua na crença em um Estado racional capaz de resolver os problemas.
O Estado na Modernidade sólida é caracterizado:
- Por uma noção de estado organizado.
- Estado produtor de justiça no mundo.
- Estado que garantiria a qualidade de vida das pessoas.
- E um Capitalismo civilizado e sob controle do Estado.

O Estado na Pós-Modernidade:
- Estado cada vez menor. (Porque quanto maior, mais atrapalha.)
O Estado se descobriu uma empresa ineficiente, para funcionar precisa encolher, e para isso abre o espaço do que devia cumprir para a iniciativa privada, e por sua vez a iniciativa privada está mergulhada numa coisa chamada mercado livre, que ele é o mais líquido de todos.
A noção de mercado vai tomando conta de todas as relações do mercado de trabalho à educação e ao amor…

Amor Pós-Moderno (a qualidade da relação)
O Bauman vai dizer, que um dos grandes problemas do homem e da mulher pós-modernos é que quando você está em um relacionamento você é continuamente atormentado pela qualidade dele.
Quando você vive o amor, a consciência da qualidade do direito de qualidade da possibilidade de “trabalhar” a relação aparece. Você acha que tem que discutir a relação. A ideia de qualidade de relação torna uma sombra para você, porque você fica observando você dentro da relação o tempo todo para ver se está funcionando. E é claro, quando você começa a observar se algo está funcionando, verá que nem tudo está funcionando direito. Por uma razão muito óbvia, nada funciona direito.
Mas essa ideia da qualidade de relação não é apenas voltada para a relação interna, o cidadão contemporâneo ele sabe que quando ele está dentro de uma relação, existem outras “oportunidades” no mercado.

Uma das coisas que o Bauman mais nos ajuda é porque às vezes a gente tende para uma ideia que é a seguinte: – Oba! Hoje é tudo muito rápido. Podemos agregar conhecimento de uma forma muito fácil. Podemos aperfeiçoar continuamente as coisas.
Só tem um problema: Tudo pode ser aperfeiçoado continuamente, menos o ser humano que chega uma hora e dá defeito. E começa a dar defeito antes do defeito final…
Você começa a correr atrás da funcionalidade total, e o mercado da vida que demanda de você eficiência em todos os níveis.
Esse diagnóstico do Bauman nos ajuda a tomar cuidado dessa ingenuidade diante de que na realidade você consegue ser “você.com”, e que isso é uma fórmula que vai funcionar a todo custo. Mas basta pensar na consistência das coisas que tem “.com” do lado, elas existem hoje, amanhã não.
O próprio meta paradigma que está atrás definindo você, também está em alta velocidade.
Quando você começa a perceber as coisas dessa forma, o Bauman diz que a consciência pós-moderna começa a se instalar em você, mas se instala antes de tudo como um mal estar.
Modernidade e ambivalência (livro) – Bauman
Discute o relativismo.
Abismo = Ambivalência = Relativismo moral
Afinal de contas, tudo é relativo? Até que ponto eu aguento que tudo é relativo?
É muito fácil falar de relativismo quando nós estamos estudando uma tribo indígena totalmente diferente da gente.

O pós-moderno não acredita em absolutamente nada, o moderno acreditava na razão, acreditava que o mundo estava caminhando para alguma coisa. O pós-moderno não enxerga nada além do vazio.
Se os pré-modernos acreditavam que a sua vida era permeada por uma hierarquia cósmica qualquer, o moderno pensa em religião e deus como superstição, no fundo você apanhou demais da sua mãe, ou é pobre demais, ou é um covarde como diz Nietzsche, que você não consegue encarar o fato que não tem nenhum sentido para viver, então fabrica um ente que te ama incondicionalmente. Umas das formas de definir uma consciência pós-moderna bem ajustada é a consciência de que você queria muito ser amado incondicionalmente e isso simplesmente não existe. Tudo na sua vida é condicionado. E na medida em que tudo é condicionado, parece que alguém está te roubando no jogo. E dá um desespero danado pensar que todo amor que têm por você é condicionado.
Religião Pós-Moderna
A razão nesse momento é como se você estivesse se afogando numa areia movediça, e tentar você mesmo salvar você, puxando você pelos cabelos. A razão não consegue fazer isso, isso é uma das grandes características do que se constituí a consciência pós-moderna. Mas ao mesmo tempo, o pós-moderno não consegue também voltar para trás e dizer que “encontrou” Jesus e que sua vida mudou…
Uma das crenças da modernidade é que acabasse a religião.
É fato que muita gente ta ficando religiosa de novo. Mas no Ocidente, se dá numa base completamente pós-moderna, cada um tem seu próprio Deus, e se cada um tem o seu, ele é um desodorante, um sabonete no máximo. Isso é teologia barata, mas funciona em loja, em revista. È um Deus light que não engorda você…
Mas muitos ainda podem cair no fundamentalismo clássico, que é o grande pepino para o ocidente. A gente não consegue entender como alguém consegue acreditar numa coisa desse jeito.
A consciência pós-moderna não consegue acreditar em nada por mais de duas horas. Se não cansou, é porque apareceu algo melhor.
A mulher pós-moderna e o homem pós-moderno descobrirão que você tem que se inventar.
Nietzsche: Indivíduos modernos vão produzir valor, o além do homem.
Pós-modernos: Não aguenta esse negócio de produzir valor, e fica procurando valor, e como ele não consegue acreditar em nada por mais de duas horas, os valores começam a variar na mão dele.
E se você inventar valor parece que não funciona, que nem amor, se você resolver se apaixonar por alguém porque existe uma série de razões que você deveria se apaixonar por aquela pessoa, não funciona. Para funcionar precisa ser igual à doença, tem que ser uma coisa que se instala em você, toma conta da sua cabeça.
O valor para funcionar parece que ele deve ter alguma característica que pra você fique claro que não foi você quem inventou. Porque você sabe no fundo que aquilo que você inventa é descartável, você sabe que você por dentro é um abismo, muda o tempo todo.

A modernidade acreditava que chegaria alguma hora que nós ficaríamos bem esclarecidos e autônomos. Ficamos autônomos, só que aí pra onde eu vou mesmo?
Mas então, perdemos as referências.

Como identificar o moderno?
Se ele disser coisas do tipo: materialismo histórico científico.
(Acredita que a história tá andando para um lugar…)

O pós-moderno acredita que a história não tá caminhando para lugar algum, não tem esperança de coisa alguma, por isso é “livre”. Isso pode virar um grande pesadelo.
O Mal-Estar da Pós-Modernidade (livro) – Bauman
Começa fazendo uma comparação do que é o mal-estar moderno e o pós-moderno.
A modernidade foi caracterizada como a troca de um mundo que o sistema de valor não funcionava mais em nome de um sistema de conhecimento que produzia segurança no mundo. Ex.: Avião.

A consciência pós-moderna é que você precisa retomar algumas coisas, mas você não consegue retomar daquele jeito.
A modernidade se caracterizou por um processo social de que a racionalidade ganhou corpo social. (Weber) A racionalidade ganhou mecanismos sociais. (identidade, função social). No séc. XIX se acreditava que se livrando dos problemas da superstição totalmente, você ia conseguir construir uma sociedade perfeitamente científica.
Hoje sabemos que a ciência pode virar um pesadelo, e ao mesmo tempo transplantar o seu coração se ele estiver mal.

A própria modernidade produziu a consciência pós-moderna. A pós-modernidade foi um processo que foi fruto dos lugares nos quais a modernidade se instalou de forma mais plena.
Ser livre
O que define você? Um DNA? Que você pode ignorá-lo. Nas ciências humanas tudo pode, tudo flui, tudo é líquido.
Angústia pós-moderna:
Eu sou livre, finalmente eu consegui ser livre, eu vivo numa democracia, sou livre das tradições, eu não sou obrigado a obedecer muita coisa, a única coisa que tenho que obedecer é a lei do mercado. Fora isso nós somos livres, mas é exatamente essa liberdade que nos atormenta. A gente não queria ser tão livre assim.

Na passagem na modernidade para a pós-modernidade o Bauman vai dizer: que a modernidade era caracterizada por uma situação que o alto investimento humano era na noção de segurança, racionalidade e organização.
A pós-modernidade vai ser caracterizada por um momento que o alto investimento humano é na liberdade.

Típica coisa do pós-moderno: Eu tenho que descobrir e aprender a ser quem eu sou.
Como você pode aprender que você é? Você não é nada, tudo é inventado, tudo é aprendido, tudo é cultura, tudo é moda, tudo é estudo.

Diagnóstico pós-moderno:
Os valores não são mais o que pareciam ser porque acreditamos entender o mecanismo de produção de valores.

Valor nada mais é do que opção, obsessão cultural ao longo do tempo. Porque não temos a menor ideia do que é o bem e o mal. Descobrimos que ser livre é um peso gigantesco, a gente gostaria muito que alguém dissesse pra gente pra onde a gente tá indo. E a gente gostaria de investir nos afetos e no amor confiando nele, ninguém é louco o bastante para confiar plenamente no amor e no parceiro.
Parar de se enganar, parar de achar que alguém vai trazer a forma definitiva ou que o mundo não andou, talvez seja você perceber que nesse mundo no lado de fora você tem pessoas que tão caindo no abismo, tão paralisadas que tão morrendo de medo, tem pessoas que se movimentam dançando.
Nietzsche: Quero um homem que caia no abismo dançando.
Ao invés de cair chorando, caia dançando. E não se trata de Carpe Diem, porque isso é uma bobagem, o presente voa. Trata-se simplesmente de você perceber que você está num mundo, num habitat diferente. Mudou, porque a gente aprendeu a lição, pensou. Nós seres humanos estamos aqui exatamente no ápice de não saber direito onde estão os limites, porque se você ficar muito preocupado com os limites, você acaba ficando parado, e se você está andando numa casca de gelo, se você parar você se afoga.


Fonte: http://cafesfilosoficos.wordpress.com/2008/10/23/zygmunt-bauman-e-a-pos-modernidade/

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