A CENA por Rubem Alves
Entre os poucos livros que tenho ao alcance da mão, na minha estante, está a estória do amor de Tomas e Tereza, que Milan Kundera conta em A Insustentável leveza do ser. Tomas tinha tido muitas amantes. De todas as suas aventuras amorosas “sua memória só registrava o estreito e íngreme caminho da conquista sexual. Todo o resto (com um cuidado quase pedante) eliminara da memória”. “Aventuras amorosas”: Tomas, na realidade, nunca estivera apaixonado. O seu horror ao amor era tal que nunca permitia que uma mulher dormisse no seu apartamento. A idéia de acordar de manha ao lado de qualquer mulher o incomodava tanto que, terminada a orgia sexual, Tomas encontrava sempre uma forma de levar a parceira de volta à casa. Ele se parecia com o sultão d’As mil e uma noites: depois de uma noite de prazeres carnais, a amante era decapitada... Era assim que Tomas se via, como animal caçador eu abandona a caça tão logo sua fome tivesse sido satisfeita. Mas com Tereza tudo tinha sido diferente. Não que
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